Rafael Silva
Pastoral da liturgia do Santuário
O Ano Litúrgico não apenas recorda as ações de Jesus Cristo, nem somente renova a lembrança de ações passadas, mas sua celebração tem força sacramental e especial eficácia para alimentar a vida cristã.
Por isso, o Ano Litúrgico é sacramento e, assim, torna-se um caminho pedagógico-espiritual nos ritmos do tempo.
Como a vida, a liturgia segue um ritmo que garante a repetição, característica da ação memorial. Repetindo, a Igreja guarda a sua identidade.
Para fazer memória do mistério, a liturgia se utiliza de três ritmos diferentes:
o ritmo diário, alternando manhã e tarde, dia e noite, luz e trevas; o ritmo semanal, alternando trabalho e descanso, ação e celebração e o ritmo anual, alternando o ciclo das estações e a sucessão dos anos.
O ritmo diário
O dia litúrgico se estende da meia noite à meia noite. A celebração do domingo e das solenidades começa, porém, com as Vésperas do dia precedente.
Acompanhando o caminho do sol, que é símbolo de Cristo, o povo de Deus faz memória de Jesus Cristo, nas horas do dia, pela celebração do Ofício Divino. Daí o nome “Liturgia das Horas”.
À tarde, o sol poente evoca o mistério da morte, na esperança da ressurreição. Isso não exclui a missa diária para sacerdotes e leigos que queiram participar.
O ritmo semanal
O ritmo semanal é marcado pelo domingo, o dia em que o Senhor se manifestou ressuscitado e conclui-se no sábado.
A história do domingo nasce na cruz e na ressurreição de Jesus. No primeiro dia da semana, quando as mulheres foram para embalsamar seu corpo, já não o encontraram mais.
No domingo, Jesus apareceu vivo a vários dos discípulos, sozinhos ou reunidos; comeu e bebeu com eles e falou-lhes do Reino de Deus e da missão que tinham que levar adiante.
O dia de Pentecostes, vinda do Espírito Santo, também aconteceu no domingo.
O ritmo anual
O Ano Litúrgico compreende dois tempos fortes:Ciclo Pascal, tendo como centro o Tríduo Pascal, a Quaresma como preparação e o Tempo Pascal como prolongamento. Ciclo do Natal, com sua preparação no Advento e o seu prolongamento até a festa do Batismo do Senhor. Além destes dois temos o Tempo Comum.
Tempo da Quaresma
Corresponde da 4ª feira de Cinzas até a 5ª feira da Semana Santa, antes da última ceia por conta da celebração dos Santos Óleos. É o tempo para preparar a celebração da Páscoa. Lembra preparação, arrependimento, penitência, conversão, jejum e oração.
No quarto domingo da quaresma (laetare) pode ser usado a cor rosa (apesar de ser quaresma), essa cor significa alegria contida, em lembrança à Ressurreição do Senhor. Assim, o Tríduo Pascal inicia-se na manhã da 5ª à feira com a celebração dos santos óleos, à noite com a celebração da Ceia do Senhor, sexta-feira da Paixão e Ressurreição do Senhor. É o ápice do Ano
Litúrgico porque celebra a Morte e a Ressurreição do Senhor.
Tempo Pascal
Os 50 dias entre o domingo da Ressurreição e o domingo de Pentecostes, é o tempo da alegria e da exultação, um só dia de festa, “um grande domingo”. São dias de Páscoa e não após a Páscoa.
Os oito primeiros dias do tempo pascal formam a oitava da Páscoa e são celebrados como solenidades do Senhor”. A festa da Ascensão é celebrada no Brasil no 7° domingo da Páscoa.
A semana seguinte, até Pentecostes, caracteriza-se pela preparação à celebração da vinda do Espírito Santo.
- Em sintonia com as outras Igrejas Cristãs, noBrasil, realizamos nestasemana a”Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos”. Recomendam-se para esta ocasião orações durante a missa, sobretudo na oração dos fieis e, oportunamente, a celebração da missa votiva pela unidade da Igreja.
Tempo do Advento
Situa-se das primeiras vésperas do domingo que cai no dia 30 de novembro ou no domingo que lhe fica mais próximo, até antes das primeiras vésperas do Natal do Senhor. O tempo do Advento possui dupla característica: um tempo de preparação para as solenidades do Natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens, e também um tempo em
que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda do Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o tempo do Advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa.
Tempo do Natal
Corresponde das primeiras vésperas do Natal do Senhor até a festa do Batismo do Senhor.
É a comemoração do nascimento do Senhor, em que celebramos a “troca de dons entre o céu e a terra”, pedindo que possamos “participar da divindade daquele que uniu ao Pai a nossa humanidade”.
Na Epifania, celebramos a manifestação de Jesus Cristo, Filho de Deus, “luz para iluminar todos os povos no caminho da salvação”.
Tempo Comum
Começa no dia seguinte à celebração da festa do Batismo do Senhor e se estende até a terça-feira antes da Quaresma. Recomeça na segunda-feira depois do domingo de Pentecostes e termina antes das Primeiras Vésperas do 1° domingo do Advento.
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Evangelho proclamado nos coloca no seguimento de Jesus Cristo. desde o chamamento dos discípulos até os ensinamentos a respeito dos fins dos tempos.
Neste tempo, temos também as festas do Senhor e a comemoração das testemunhas do mistério pascal (Maria, Apóstolos e Evangelistas, demais Santos e Santas).
As solenidades, festas e memórias
As Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário Romano (NALC), promulgadas por Paulo VI, em 1969, distinguem os dias litúrgicos, segundo sua importância, em Solenidade, Festa e Memória.
As solenidades
“As solenidades são constituídas pelos dias mais importantes, cuja celebração começa no dia precedente com as Primeiras Vésperas. Algumas solenidades são também enriquecidas com uma Missa própria para a Vigília, que deve ser usada na véspera quando houver Missa vespertina”. Estas celebrações têm orações, leituras e cantos próprios ou retirados do Comum.
As festas
“As festas celebram-se noslimites do dia natural, por isso, não têm Primeiras Vésperas, a não ser que se trate de festas do Senhor que ocorrem nos domingos do Tempo Comum e do Tempo do Natal, cujo Ofício substituem”. Na Missa, as orações, leituras e cantos são próprios ou do Tempo Comum.
As memórias
A memória é uma recordação de um ou vários santos ou santas em dia de semana. Sua celebração se harmoniza com a celebração do dia de semana ocorrente, segundo as normas expostas na Instrução Geral sobre o Missal Romano e a Liturgia das Horas.
As memórias são obrigatórias ou facultativas. A única diferença entre os dois tipos de memórias é que as memórias obrigatórias (como seu nome sugere) devem necessariamente ser celebradas e as memórias facultativas podem ser celebradas ou omitidas, segundo se considere oportuno. Quanto ao modo de celebrá-las, procede-se da mesma maneira em ambos os casos.
Comemorações
As memórias obrigatórias ocorrem nos dias de semana da Quaresma e nos dias 17 a 24 de dezembro, podem ser celebradas como memórias facultativas. Neste caso, são chamadas simplesmente de comemoração.
A celebração de todos os fieis defuntos, por não ter caráter de solenidade, festa ou memória propriamente ditas, é chamada pela Igreja de Comemoração. Trata-se de uma Comemoração muito especial, celebrada mesmo quando ocorre em domingo.
Os Lecionários
O Lecionário Dominical
As leituras indicadas no Lecionário Dominical foram dispostas da seguinte maneira: para os domingos e algumas festas temos um ciclo de três anos (está no Lecionário Dominical): A -Mateus; B -Marcos; C Lucas. O evangelho de João é proclamado em algumas solenidades e também durante alguns domingos do ano B.
O Lecionário Semanal
Já durante a semana o Lecionário dispôs da seguinte maneira para as leituras: anos pares (2012, 2014, 2016, 2018, …) e anos ímpares (2013, 2015, 2017, 2019, …)
O Lecionário Santoral
Para as festas em algumas memórias dos Santos, temos também leituras próprias, indicadas no lecionário santoral.
Dias santos de guarda
“Dias de festa”, “dias de preceito”, “festas de preceito”ou, como se diz,“dias santos de guarda”, são dias em que “os fieis têm obrigação de participar da Missa e devem abster-se das atividades e negócios que impeçam o culto a ser prestado à Deus, a alegria própria do Dia do Senhor e o devido descanso do corpo e da alma” (cân. 1247).
O domingo é o dia de festa por excelência, em toda a Igreja. No Brasil, além do domingo, as festas de preceito são as seguintes: Natal do Senhor Jesus Cristo (25 de dezembro); SS. Corpo e Sangue de Cristo (quinta-feira após o domingo da Santíssima Trindade); Santa Maria Mãe de Deus (1° de janeiro); Imaculada Conceição de Nossa Senhora (8 de dezembro).
As celebrações da Epifania, da Ascensão, da Assunção de Nossa Senhora, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e a de Todos os Santos ficam transferidas para o domingo, de acordo com as normas litúrgicas.
Cores Litúrgicas
Branco
É usado nas Missas do Tempo Pascale do Natal do Senhor, bem como nas suas festas e memórias; nas festas e memórias da Bem-aventurados, Virgem Maria, dos Santos Anjos, dos Santos não Mártires, na festa de Todos os Santos (1 de Novembro), na Natividade de São João Batista (24 de Junho), na festa de São João Evangelista (27 de Dezembro), da Cátedra de São
Pedro (22 de Fevereiro) e da Conversão de São Paulo (25 de Janeiro). O branco é símbolo da luz, tipificando a inocência e a pureza, a alegria e a glória.
Dourado
É uma variação do Branco e, inclusive, tem o mesmo significado. Geralmente utilizado em festas, solenidades maiores (Natal, Páscoa, entre outros) e grandes eventos (ordenações)
Vermelho
É usado noDomingo de Ramos e na Sexta-feira Santa; no domingo de Pentecostes, nas celebrações da Paixão do Senhor, nas festas dos Apóstolos e Evangelistas (com exceção de São João), e nas celebrações dos Santos Mártires. Simboliza as línguas de fogo em Pentecostes e o sangue derramado por Cristo e pelos mártires, além de indicar a caridade inflamante.
Verde
O verde usa-se nos Ofícios e Missas do Tempo Comum. Simboliza a cor das plantas e árvores, prenunciando a esperança da vida eterna.
Roxo
É usado no Tempo do Advento e no Tempo Quaresmal, Celebração dos Fieis Defuntos, Exéquias e Missas de Corpo Presente. Em geral, representa uma espera por um grande acontecimento, que nos convoca a uma preparação adequada. Mais especificamente:
– No Advento: significa uma purificação da vida pela verdade, preparando os caminhos do Senhor.
-Na Quaresma: se refere a uma profunda interiorização num tempo forte de penitência e conversão, de jejum e oração.
-Na Celebração dos Fieis Defuntos, Exéquias e Missas de Corpo Presente: O Roxo vem acompanhado do sentido de um recolhimento que alimenta uma esperança.
Preto
Pode ser usado, onde for o costume, nas Missas pelos mortos. Denota um símbolo de luto, significando a tristeza da morte e a escuridão do sepulcro. Ao contrário do que pensam muitos clérigos e leigos, a cor preta não foi abolida pela IGMR (Instrução Geral do Missal Romano).
Segue sendo uma opção para a missa pelos mortos, onde for costume utilizá-la. No Brasil, contudo, o uso do preto nas celebrações pelos fieis defuntos foi, na prática, abolido, havendo sido substituído pelo uso do roxo, uso este facultado pela própria IGMR.
Rosa
O rosa, variação mais clara do roxo, representa uma quebra na austeridade do Advento e da Quaresma, simbolizando uma alegria contida, podendo ser usada nos domingos Gaudete (III do Advento) e Lætare (IV da Quaresma), ocasiões em que também poderá ser utilizado o roxo.
Azul
Festas e Solenidades da Santíssima Virgem Maria.
O azul não é umadascores litúrgicas previstas pela IGMR, mas seu uso é largamente difundido no Brasil, Portugal e outros. A origem de seu uso litúrgico moderno parece remontar a um privilégio papal dado a algumas dioceses espanholas para uso na Solenidade da Imaculada Conceição. O privilégio teria sido estendido aos países da América Latina de colonização espanhola, bem como às Filipinas (também ex-colônia espanhola). Algumas vezes a casula dourada tem detalhes em azul, com a mesma finalidade.